Maitresse (1975) , Desejo e estrutura de poder, um filme de Barbet Schroeder

Recentemente eu estava navegando no portal makingoff e por curiosidade escrevi Lacan na caixa de pesquisa. Entre os diversos resultados havia um comentário no filme Maitresse, de Barbet Schroeder, onde um usuário havia deixado a nota "o filme predileto do Lacan" . Cheguei a pesquisar sobre se havia alguma menção do Lacan a este filme, e nenhum resultado apareceu, provavelmente o comentário era um delírio do usuário do fórum. Mas por se tratar do diretor de More (1969) e The Valley Obscured by Clouds (1972) , e pelo curioso comentário, confesso, decidi assistir a obra. 

Pela análise lacaniana deste filme, não era o protagonista Olivier (Gerard Depardieu) que encarnava os motivos estruturantes da narrativa; neste sentido ele era apanas um coadjuvante, uma vez que o filme analisava as estrutura de poder das classes abastadas da sociedade francesa. O grande operador do drama era o desejo de um personagem ausente, misterioso, que mantinha financeiramente a co-protagonista Ariane ( Bulle Ogier) e o funcionamento da espécie de bordel que ela mantinha no andar inferior ao da sua residência. Neste espaço, as cenas sadomasoquistas se desenvolviam e por elas e pelo perfil dos personagens percebíamos que aquilo era a extravagância do desejo de pessoas socialmente bem estabelecidas, ricas. Isso ficava claro até mesmo pelo contraponto que Olivier significava, mostrado como alguém sem recursos. Portanto, o filme pretendia mostrar o sadomasoquismo como sintoma de sujeitos que não satisfeitos com seu poder sobre os outros, mas paradoxalmente, desenvolviam desejos de humilhação e submissão. Este sintoma se expressava no desejo temporário de renunciar o poder, uma necessidade da psique deste sujeito em experimentar algo que invertesse essa relação. O sadomasoquismo era também uma expressão de fantasias estruturantes que organizam o desejo deste sujeito. No masoquismo, o sujeito pode ocupar uma posição de submissão ao Outro, mas essa submissão era paradoxalmente uma forma de controle. 

Foi através desses conceitos da psicanálise que  esse filme se desenvolveu, servindo de mais um exemplo de como o cinema usa essa ciência para elaborar personagens e espaços cinematográficos. Não sei se esse era de fato o filme predileto do Lacan, como alguém havia comentado na internet. O que eu sei, não era o meu predileto do Barbet Schroeder. 




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