Mauvais Sang, Sangue Ruim (1985), um filme de Leos Carax
Mauvais Sang, segundo longa-metragem de Carax, havia confirmado o talento do então promissor diretor de Boy Meets Girl (1984), e o lançou definitivamente no cenário internacional, após receber uma menção honrosa no festival de Berlim de 1987. O elenco contava então com Juliete Binoche no início de sua carreira, interpretando a doce Anna, a estrela de Michel Picolli, como o gângster Marc. Protagonizado pelo inesquecível Alex, interpretado pelo brilhante Denis Levant.
Além de Levant, muitos dos méritos deste filme se devem ao fabuloso diretor de fotografia Jean-Yves Escoffier. Certamente instruído por Carax, criou um set de iluminação marcando pólos dramáticos da luz, estabelecendo assim, nítidas referências que vão desde o expressionismo alemão dos anos 20 até o cinema noir americano dos anos 40.
Neste ponto, cabe ressaltar a faceta de Leos Carax como crítico que foi, anterior ao diretor. Como redator da Chaiers du Cinéma, desde final dos 70, com ainda 20 anos, Carax assimilou a filosofia desta revista, da crítica como forma de fazer filmes. Sua relação íntima com o cinema se expressa no seu estilo, mas também em suas palavras. “Mauvais Sang is a film that has a sort of child father relationship with cinema. Cinema was there to reassure me” - Disse Carax.
Jean Luc Godard ( de quem Carax foi assistente de direção) é sem dúvida a referência mais direta tocada por Mauvais Sang. Em muitas maneiras: desde a forma iconoclasta de usar os elementos cromáticos dando valores especiais ao vermelho e ao azul, parecendo-se com a forma utilizada por Godard em Pierrot le Fou (1965); os travellings laterais em alternância; até a própria linha narrativa de Mauvais Sang, se aproxima de A bout de Souffle: quando vemos a Alex y Anna conversando sobre o amor enquanto estão prestes a cometer um crime; não seria exagero afirmar que se trata, nada menos, que uma nova versão estilizada de Michel Poiccard y Patricia Franquini, de 1959.
Embora Mauvias Sang se constitua por uma estranha mistura entre 3 estilos cinematográficos (expressionismo, noir e Godard), vemos por parte de Carax um esforço em busca de sua própia assinatura. Entre Boys Meet Girl, Mauvais Sang, e Les amants du pont Neuf (1991) existe uma unidade entre personagens (principalmente os de Denis Levant) como orfãos do caos, que buscam vivências no limite. Desde alguém correndo enlouquecido pelas ruas ao som de Modern Love, de Bowie em Mauvais Sang, até um casal de mendigos esquiando no meio do Seine em uma lancha roubada, embaixo de Paris iluminada por fogos artificiais.
O repertório de Carax representa um diretor que mirou alto no olimpo do cinema, e acima de todas as tragédias financeiras em que resultaram suas extravagâncias (que quase acabou com sua carreira), Carax deveria estar satisfeito por ter nos deixado uma brilhante trilogia do Amour fou.
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