L´Intrus , O Intruso (2004), um filme de Claire Denis
Em 1997 o filosofo Jaques Derrida liderava um debate nacional sobre a questão da imigração na França, e pediu para que Jean-Luc Nancy escrevesse algo sobre o tema. Nancy começou a preparar um texto titulado L'etranger (O Estrangeiro) porém percebeu em seguida que estava escrevendo sobre outra coisa, ele acabou por relatar sua própria experiência com um transplante de coração, que havia feito treze anos antes. Percebeu também que o nome L'etranger, ficava longe demais dessa intima realidade, então mudou o nome do livro para algo mais próximo como L´Intrus. Durante a filmagem de Trouble Every Day (2001) Clarie Denis se encontrou com dito livro, e ficou seduzida pela descrição física de alguém que recebeu de um corpo estranho um órgão vital . Essa leitura impulsionou Denis a embarcar em um projeto cinematográfico onde uma vez mais focaria a figura e a fragilidade do corpo humano, e deixando em um segundo plano a questão social que a priori o texto estava comprometia. No filme, vemos a um grupo de imigrantes saltado a barreira de uma estrada. A conexão semântica entre O Intruso/O estrangeiro é obvia de se estabelecer com a questão da imigração; no entanto quando perguntada sobre como isso se conecta ao transplante de coração, Denis afirma que, “Acho que nem Jean-Luc Nancy está certo disso”.
Tal como em Beau Travail (1999), a adaptação de Claire Denis não pretende ser fiel ao livro em que se baseia, “uma adoção seria melhor dito”, em suas palavras. Desde Trouble Every Day Denis trabalhava um forte e predominante estilo elíptico de narração, esses três filmes citados são conhecidos por exigir muito do espectador, em L´Intrus a diretora francesa segue por este caminho. Este fato encontrou algumas críticas pelo caráter abstrato que seus filmes projetam, deixando alguns espectadores literalmente confusos ou perdidos, e logo os mesmos julgam o filme como sem sentido. Mas na verdade, em defesa desse estilo, deve-se lembrar de que o cinema está para mostrar antes de dizer. Um cinema que se relaciona com a imagem antes do discurso falado, e Denis trabalha esse mecanismo muito bem. Pode que L´Intrus apresente certo mau entendido o dito anteriormente, a conexão entre a imigração e o transplante não são claras. Por outro lado o poder do lirismo, e a beleza poética alcançada pelos insights do protagonista Louis Trebor (Michel Subor), são inegáveis.
Comentários
Postar um comentário